Evangelho
Naquele tempo, 24 Jesus saiu dali e foi para a região de Tiro e Sidônia. Entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse onde ele estava. Mas não conseguiu ficar escondido. 25 Uma mulher, que tinha uma filha com um espírito impuro, ouviu falar de Jesus. Foi até ele e caiu a seus pés. 26 A mulher era pagã, nascida na Fenícia da Síria. Ela suplicou a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio. 27 Jesus disse: "Deixa primeiro que os filhos fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos". 28 A mulher respondeu: "É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair". 29 Então Jesus disse: "Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio já saiu de tua filha". 30 Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada na cama, pois o demônio já havia saído dela.
— Palavra da Salvação.
Reflexão
1. Jesus nasce judeu, prega para judeu, mas, segundo o episódio de hoje, abre também seu ministério aos pagãos ao entrar numa residência pagã sem ser reconhecido. É por isso que a primeira importante coisa a ser observada pelo texto é a entrada de Jesus em território pagão, depois de experimentar a incredulidade dos seus conterrâneos e de tornar claro, para eles, que a impureza sai de dentro do homem. Com isso, Ele coloca em xeque justamente o pensamento judeu quanto à impureza no que diz respeito a alguns alimentos, doenças e pessoas estrangeiras tidas como ímpias e idólatras. A presença mesma de Jesus em ambiente pagão indica a confirmação de seus ensinamentos: o interior do homem é o lugar tanto do encontro com Deus quanto de sua própria desgraça. No caso do texto, Jesus revela Seu interior todo voltado para o Pai e para o bem da humanidade.
2. A mulher de cultura religiosa grega e nacionalidade siro-fenícia representa a comunidade pagã de Marcos. Duas coisas emergem dessa figura: primeiro, ela toma consciência de sua condição de "cachorrinho", segundo o diminutivo de Mc. Ela sabe que, conforme o pensamento judeu, não tem direito algum a nada que pertença ao mundo judaico. Jesus traz isso a sua memória, torna-a consciente dessa realidade. O que ela gostaria de receber, nesse sentido, seria impossível. Segundo, ela demonstra uma profunda confiança em Jesus, volta-se completamente para Ele, humilha-se pela necessidade e pela certeza do poder que transparece na pessoa do Mestre: "Os cães comem as migalhas que caem das mesas dos seus donos". Para ela serve o resto, contanto que ele venha saciar suas necessidades. Jesus se encanta com a resposta humilde da mulher e, mesmo à distância, realiza o desejo dela, libertando sua filha.
3. A missão de Jesus é, antecipadamente, inaugurada por Ele mesmo. Aquilo que estava reservado somente para depois de Pentecostes, agora já tem seu início e indicação missionária. Os discípulos, que estavam a sós com Jesus, para um maior aprendizado, tiveram, mediante essa situação, a concretização dos ensinamentos de Jesus sobre o que é puro e impuro, enfatizando o coração como o lugar da decisão maior. Jesus se admira com a fé, com a humildade e a entrega de si própria daquela mulher. Na verdade, Ele está dizendo que toda a Igreja, que cada batizado e batizada se comporte do mesmo jeito, em total abandono nas mãos de Deus e na abertura à ação do Espírito Santo, a fim de que todos sejam configurados a Cristo Ressuscitado.
4. Agindo no mundo, os discípulos devem reconhecer em cada pessoa não a diferença de cultura, mas o que de excelente existe nela. É importante lembrar que todos as pessoas foram criadas por Deus, por isso mesmo têm suas marcas, sinais do Seu amor, verdade e fidelidade. O outro, aquele que ainda não conhece Jesus Cristo, não é filho do Diabo, mas filho de Deus na ordem da criação. Ele pode até viver na idolatria, mas isso não significa que deva ser desprezado, ou ainda mais conduzido à morte, pois um pecador não tem poder sobre outro, pois ambos são réus de morte por causa do pecado. Pelo contrário, o anúncio da Verdade defe ser feito segundo o amor e o reconhecimento da importância do outro e de sua história. A verdadeira transformação só acontecerá quando o outro se encantar com a mensagem anunciada e, humildemente, desejá-la como única riqueza de sua vida. Quem encontra, de fato, a Palavra de Deus e a Lei da liberdade (cf. Tg 1,22.25) e procura colocá-las em prática, esse, sim, transita pela estrada da salvação e se torna uma possibilidade salvífica para os que andam as apalpadelas no mundo.
Um forte e carinhoso
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