Folclore brasileiro
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O folclore brasileiro, segundo o Capítulo I da Carta do Folclore Brasileiro, é sinônimo de cultura popular brasileira,
e representa a identidade social da comunidade através de suas criações
culturais, coletivas ou individuais; é também uma parte essencial da cultura do Brasil
em seu todo. Seu estudo sistemático, porém, iniciou somente em meados
do século XIX, e levou mais de cem anos para se consolidar no país. A
partir da década de 1970 o folclorismo nacional definitivamente se
institucionalizou e recebeu conformação conceitual sólida.
Sendo composto por contribuições as mais variadas - com destaque
para a portuguesa, a negra e a indígena - e tendo raízes imemoriais, o folclore do Brasil
é rico e diversificado, sendo hoje objeto de intensificados estudos e
recebendo larga divulgação, constituindo além disso elemento importante
da própria economia do Brasil pela produção e comércio de bens associados e o turismo cultural que fomenta.
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[editar] Estudos históricos do folclore brasileiro
O folclore brasileiro, apesar de ter raízes imemoriais, só começou a receber a atenção da elite nacional em meados do século XIX, durante o Romantismo,
movimento que prestigiava as singularidades e as diferenças,
consagrando os vários povos e tradições como dignos objeto de atenção
intelectual. Naquele momento, acompanhando a mesma onda de interesse
pela cultura popular que crescia na Europa e nos Estados Unidos, alguns estudiosos brasileiros, como Celso de Magalhães, Sílvio Romero e Amadeu Amaral, passaram a pesquisar as manifestações folclóricas nativas e publicar estudos sistemáticos.[1][2]
A partir de um primeiro interesse nos fatos da história oral, depois
se passou a estudar a música, e mais tarde as festas e folguedos e
outras manifestações. Ao mesmo tempo, diversos artistas ligados à elite
passaram a empregar elementos da cultura popular na criação de obras
destinadas aos círculos ilustrados, como parte de um projeto,
estimulado e desenvolvido pelo governo de Dom Pedro II, de construção de um corpo de símbolos
nacionalistas que poderia contribuir para a afirmação do Brasil entre
as nações civilizadas. As classes superiores nunca foram inteiramente
livres da influência da cultura popular, mas obras como por exemplo I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, e a música de Luciano Gallet e Alexandre Levy
deram a temas do folclore brasileiro um papel de destaque na arte
culta, e desde então o interesse pelo assunto só cresceu, e em várias
frentes.[3]
O impulso nacionalista rendeu ainda maiores frutos com o advento do Modernismo, quando o folclore passou a ser visto como a verdadeira essência da brasilidade. Mário de Andrade, um dos líderes do Modernismo brasileiro, foi um grande pesquisador do folclore nacional, procurando colocá-lo em diálogo com as ciências humanas e sociais, que naquela altura nasciam no país.[2] Outros nomes influentes ligados ao movimento modernista, como os pintores Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, e o músico Villa-Lobos, também incorporaram elementos folclóricos em suas obras.[3][4][5]
Mário teve a oportunidade de agir oficialmente pelo folclore, cirando a
Sociedade de Etnologia e Folclore quando dirigiu o Departamento de
Cultura do estado de São Paulo entre 1935 e 1938, abrindo cursos para a
formação de pesquisadores, onde palestraram eruditos renomados como Lévi-Strauss.[6]
Na década de 1950 essa movimentação se multiplicou em larga escala, atraindo outras figuras ilustres como Cecília Meireles, Câmara Cascudo, Edison Carneiro, Florestan Fernandes e Gilberto Freire,[2] além de estrangeiros como Roger Bastide e Pierre Verger.[6] O movimento folclorista nesta época encontrou a consagração institucional maior na Comissão Nacional de Folclore, fundada em 1947 por Renato Almeida, através de recomendação da UNESCO, vinculada ao Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura e à própria UNESCO. No contexto do pós-guerra,
a preocupação com o folclore se inseria nas iniciativas em prol da paz
mundial. O folclore era visto como elemento de compreensão entre os
povos, incentivando o respeito pelas diferenças e permitindo a
construção de identidades diferenciadas. Como disse Cavalcanti, o
Brasil de então "orgulhava-se de ser o primeiro país a atender à
recomendação internacional no sentido da criação de uma comissão para
tratar do assunto".[2][7] Em 1958 foi instituída a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, órgão executivo do Ministério da Educação,
dinamizando os debates e pesquisas através de comissões estaduais de
folclore, e adotando a prática de engajar colaboradores do interior,
mesmo que fossem diletantes, uma vez que se considerou que a intimidade
deles com a cultura interiorana contrabalançaria a sua falta de
especialização profissional.[8]
Paralelamente à luta pela institucionalização desenvolvia-se um
debate a respeito da formulação dos conceitos delimitadores do folclore
como uma ciência,
o que dependia da libertação do folclore em relação à literatura e à
história, que tradicionalmente absorviam o pensamento sobre a cultura
popular.[8] Mas a tarefa foi em muitos pontos inglória. No relato de Travassos, resenhando ideias de Vilhena,
-
- "A concepção de sociologia que predominou inicialmente nas universidades brasileiras destacava as deficiências de rigor científico dos trabalhos de folclore. De outro, divergências metodológicas entre folcloristas e sociólogos estavam entrelaçadas a concepções distintas da formação nacional. Enquanto os primeiros orientavam as pesquisas na direção das formas que evidenciassem fusões e sincretismos culturais, os segundos indagavam o grau de integração das camadas sociais e grupos étnicos. Finalmente, a 'tradição cultural nascente' que os participantes do movimento prezavam não tinha relevância para aqueles que, na linha dos folcloristas europeus, consideravam folclóricos os fenômenos identificados com um estrato cultural muito antigo. Assim, o movimento distanciou-se também das concepções européias e norte-americanas que adotam, respectivamente, os critérios básicos de antiguidade e oralidade na definição de folclore. As discordâncias devem-se, mais uma vez, ao peso das preocupações com a nacionalidade".[8]
Além da pesquisa requisitou-se a participação das escolas como
instrumentos de preservação e disseminação do folclore, acreditando-se
que o caráter intervencionista e "artificial" dessa medida seria
compensado pelas possibilidades de vivência "real" do folclore nas
festas e brincadeiras infantis, fomentando a inclusividade, o
engajamento na defesa de tradições ameaçadas e a formação de um senso
de "fraternidade folclórica", como queriam Renato Almeida e outros que
viam o movimento quase como uma missão sagrada. O movimento folclórico
brasileiro produziu enfim um projeto paradoxal de ciência, na qual não
havia diferença marcante entre leigo e cientista, entre objeto e
sujeito, entre participação efetiva e observação impessoal.[8]
Essas ideias e posturas tinham seus riscos e contradições, e deram
margem a críticas que alegavam que a interferência ativa do Estado na
interpretação e no fomento do folclore servia como uma cortina de
fumaça para esconder problemas sociais apresentando-os como realidades
folclóricas.[9]
De qualquer maneira, os trabalhos desses pesquisadores fizeram
evoluir as concepções brasileiras sobre o que é o folclore. Reunidos no
Rio de Janeiro em 1951, no I Congresso Brasileiro de Folclore, publicaram a Carta do Folclore Brasileiro, onde se definiu o folclore como "as
maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição
popular e pela imitação e que não sejam diretamente influenciadas pelos
círculos eruditos e instituições que se dedicam ou à renovação e
conservação do patrimônio científico e artístico humano ou à fixação de
uma orientação religiosa e filosófica". Benjamin diz que se
estabeleceu também como folclore os fatos sem o fundamento da tradição,
bastando que fossem de aceitação coletiva e essencialmente populares,
anônimos ou não, derrubando os requisitos de antigüidade, oralidade e
anonimato e relativizando a condição de tradicionalidade.[10]
A partir de 1961 os folcloristas passaram a contar com um importante meio de divulgação e discussão, a Revista do Folclore Brasileiro,
que circulou até 1976 totalizando 41 volumes, e se tornando um
catalisador das pesquisas. Mas apesar das conquistas ao folclorismo
nacional ainda faltava credibilidade, o que só seria conseguido, como
pensava Almeida, quando ele penetrasse nas universidades. Em meio à
polêmica que cercava o tema, o folclore foi gradativamente sendo
alijado do modelo acadêmico que se consolidava. Embora muitos de seus
estudiosos permanecessem ligados às universidades, a disciplina foi se
cristalizando como um sub-campo das ciências sociais. A situação ficou
pior com o golpe militar de 1964,
que ocasionou a demissão de Edison Carneiro, o principal folclorista
daquele momento, do cargo de diretor da Campanha, fechada no dia
primeiro de abril com um cartaz na porta que dizia: "fechado por ser um antro de comunistas". Com isso se encerrava todo um ciclo do folclorismo brasileiro.[11]
Mas a Campanha foi finalmente reaberta com Renato Almeida como seu diretor. Incorporada à Funarte,
transformou-se em 1979 no Instituto Nacional do Folclore. Em 1990 o
Instituto passou a ser denominado Coordenação de Folclore e Cultura
Popular, hoje chamado Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e tendo como missão declarada "formular,
fomentar e executar programas e projetos em nível nacional voltados
para a pesquisa, documentação, difusão e apoio a expressões das
culturas populares brasileiras".[7][12]
Desde essa retomada nos anos 60-70 se acelerou e aprofundou a
modernização da sociedade, a televisão entrou decisivamente no
cotidiano, e ao contrário do que temia a Campanha em seus primórdios, o
folclore não acabou, mas adaptou-se e transformou-se, assim como
continuaram em mudança os conceitos a seu respeito, bem como as
práticas que exigem. Cavalcanti sumariza o processo:
-
- "A cultura não é mais entendida como um conjunto de comportamentos concretos mas sim como significados permanentemente atribuídos... Uma festa é mais do que a sua data, suas danças, seus trajes e suas comidas típicas. Elas são o veículo de uma visão de mundo, de um conjunto particular e dinâmico de relações humanas e sociais. Não há também fronteiras rígidas entre a cultura popular e a cultura erudita: elas comunicam-se permanentemente... Na condição de fato cultural, o folclore passa a ser compreendido dentro do contexto de relações em que se situa".[2]
Em 1995, realizando uma revisão da Carta do Folclore Brasileiro no VIII Congresso Brasileiro de Folclore, reunido em Salvador, os folcloristas brasileiros adotaram o conceito de que folclore é "o
conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas
tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua
identidade social. Constituem-se fatores de identificação da
manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade,
dinamicidade, funcionalidade".[10]
Aceitação coletiva significa que deve ser uma prática
generalizada, implicando uma identificação coletiva com o fato, mesmo
que ele derive das elites. Tradicionalidade é entendida como
uma continuidade através das gerações, onde os fatos novos se inserem
sem ruptura com o passado, e se constroem sobre esse passado. Dinamicidade se refere à sua feição mutável, ainda que baseada na tradição. Funcionalidade,
por existir uma razão para o fato acontecer, não constituindo um dado
isolado, e sim inserido em um contexto dinâmico e vivo. Pode-se
acrescentar a esses o critério da espontaneidade, já que o fato
folclórico não nasce de decretos governamentais nem dentro de
laboratórios científicos; é antes uma criação surgida organicamente
dentro do contexto maior da cultura de uma certa comunidade. Mesmo
assim, em muitos locais já estão sendo feitos esforços por parte de
grupos e instituições oficiais no sentido de se ressuscitar nos dias de
hoje fatos folclóricos já desaparecidos, o que deve ser encarado com
algum ceticismo, dado o perigo de falsificação do fato folclórico.
Também deve ser regional, ou seja, localizado, típico de uma
dada comunidade ou cultura, ainda que similares possam ser encontrados
em países distantes, quando serão analisados como derivação ou variante.[10]
Apesar da existência destes critérios, muitas vezes é difícil
determinar se um fato é ou não folclórico, até porque os pesquisadores
não raro divergem sobre os conceitos e suas aplicações. Nesse contexto,
disse Cavalcanti que antes do que tentarmos saber se um dado fato é ou
não folclórico, é mais produtivo entender o folclore como um campo de
estudos ainda em expansão, significando que o elemento folclórico não
está tanto no fato concreto, mas em seu entendimento como folclórico, e por isso a definição do que é folclore varia com o tempo.[2]
A despeito das polêmicas entre os estudiosos, o resultado dessa
evolução continuada é que atualmente o folclore brasileiro se elevou a
uma posição de destaque. Além de ser a base alimentadora de boa parte
do turismo cultural do país,
dinamizando comércio, indústria e serviços, se tornou instrumento de
educação nas escolas, tem museus para ele e está protegido por lei,
sendo considerado um bem do patrimônio histórico e cultural do país. A Constituição do Brasil protege o folclore através dos artigos 215 e 216, que tratam da proteção do patrimônio cultural brasileiro, ou seja, "os
bens materiais e imateriais, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira".[13][14][15]
Por outro lado, como se observa em outras partes do mundo, o
folclore brasileiro está experimentando modificações importantes em
virtude do apelo turístico, e da influência dos novos meios de comunicação de massa
e das novas tecnologias de registro e difusão de informações,
ocasionando a descaracterização de muitos fatos folclóricos e sua
transformação em espetáculos de massa, o que está gerando preocupação.[10] Benjamin esclarece:
-
- "Um outro processo a merecer atenção é o da espetacularização das manifestações folclóricas pela pressão dos meios de comunicação de massa e do turismo. Algumas das manifestações tradicionais guardam a natureza de espetáculos, que têm sido levados à exacerbação, convertendo-se em produto da cultura de massas. O exemplo mais evidente é o do boi-bumbá de Parintins. Preocupante, porém, é o caso de manifestações de natureza ritual, reservadas aos membros de comunidades religiosas, que por seu exotismo estão sendo cooptadas para converter-se em eventos de massa. É o caso das panelas-de-Iemanjá, convertidas em festivais para turistas. Diante desse quadro, torna-se necessária uma nova postura liberada dos preconceitos etnocêntricos, a reciclagem das técnicas de pesquisa em trabalho interdisciplinar com a incorporação das contribuições renovadas das ciências humanas e das ciências da linguagem, o uso de novas tecnologias e equipamentos disponíveis".[10]
[editar] O folclore brasileiro
Como sinônimo de cultura popular,
o folclore brasileiro é o rosto social e identitário de uma vasta
população de cidadãos brasileiros, cada um deles possuindo sua própria
história, e seus próprios referenciais culturais - pois nasceu em uma sociedade - que constituem sua identidade
como pessoa e como membro dessa sociedade: o folclore é, digamos, o
cenário, o enredo geral e o acervo de apetrechos dos quais depende o
ator humano para desempenhar o seu papel vital, elementos criados pelo
próprio ator e que não só estruturam e articulam a sua vida como em
muito a definem, justificam e até pré-determinam, pois muitos deles
foram herdados de seus ancestrais, colorem a cultura onde ele vive e
possuem força atávica,
com raízes cuja antiguidade última se perde no tempo e transcende as
fronteiras geográficas. Da combinação perene, viva e ininterrupta, dos
cenários de todos os atores de um dado país surge a cultura
deste povo, com todas as suas variantes regionais e locais, um mosaico
multifacetado de expressões, modos de ser e entender o mundo e de com
ele interagir. O folclore inclui mitos, lendas, contos populares, ritos
e cerimônias religiosos e sociais, brincadeiras, provérbios,
adivinhações, as receitas de comidas, os estilos de vestuário e
adornos, orações, maldições, encantamentos, juras, xingamentos, danças,
cantorias, gírias, apelidos de pessoas e de lugares, desafios,
saudações, despedidas, trava-línguas, festas, encenações, a
gestualidade associada à intercomunicação oral, artesanato, medicina
popular, os motivos dos bordados, música instrumental, canções de ninar
e roda, e até mesmo maneiras de criar, chamar e dar comandos aos
animais. A lista do que é folclore não se limita ao que vem do
interior, inclui as expressões próprias da vida em cidades, lendas
urbanas, os reclames dos vendedores de rua, os símbolos, modelos de
arquitetura e urbanismo vernáculos. Na apresentação do folclore
brasileiro oferecida pelo IBGE, "através
do folclore o homem expressa as suas fantasias, os seus medos, os
melhores e piores desejos, de justiça e de vingança, às vezes apenas
como forma de escapar àquilo que ele não consegue explicar". Todas
essas manifestações se manifestam peculiarmente em cada cultura e
diferem de região para região, e de indivíduo para indivíduo.[16]
O Brasil possui um folclore riquíssimo, sendo impossível entrar em
detalhes aqui; pode-se outrossim elencar algumas categorias mais
comuns, dando-lhes um ou outro exemplo. Muitas expressões têm uma
presença nacional, ou quase isso, como o carnaval, as farras de boi, as festas juninas, as cavalhadas, a festa do divino e as lendas do curupira, do saci pererê e da mula sem cabeça; outras, são restritas a regiões e estados ou mesmo a pequenas comunidades esquecidas pelo progresso, como os fandangos de tamancos do interior de São Paulo ou a lenda da Teiniaguá no Rio Grande do Sul.[16][17][18]
[editar] Música e dança
Frequentemente interligadas, muitas formas musicais, seja puramente de instrumento ou com canto, são ritmos de dança, como o cateretê, a polca, o maxixe, o lundu, o baião, o samba, o frevo, o xaxado, o fandango, a vanera, o xote, o maracatu, a ciranda, o jongo, a tirana, a catira, o batuque, o pau-de-fita, a quadrilha, as cantigas de roda, sendo bem conhecidas as melodias Escravos de Jó, Sapo Cururu, O Cravo e a Rosa, Ciranda-Cirandinha e Atirei o Pau no Gato. Outros exemplos de música são os acalantos, como o Dorme, neném, que a Cuca vem pegar; as modinhas, desafios e repentes; as cantigas de trabalho, velório e cemitério; as serestas, as modas de viola; as ladainhas, responsórios e outros cânticos sacros.[19]
Cantico Salutaris - Festa do Divino de Pirenópolis - Orquestra e Coral Nossa Senhora do Rosário, Pirenópolis
Choro-maxixe Corta Jaca, de Chiquinha Gonzaga. Grupo Chiquinha Gonzaga, 1910-1912
[editar] Festas e encenações
Algumas das principais festas são o Carnaval, a Folia de Reis, as
Farras de boi e Cavalhadas, as Festas Juninas, a Festa do Divino e o
Congado. Em todas elas várias expressões folclóricas se encontram
reunidas, como a culinária, o vestuário, o teatro, jogos e competições,
contação de casos e lendas, ritos religiosos, danças e cantos. E sendo
festas de grande difusão, se encontra uma infinidade de variantes
através do território brasileiro.
Tem uma origem antiquíssima; há mais de seis mil anos, no Egito, quando se comemoravam as colheitas, nasceu o Carnaval. Depois se alastrou pelo Mediterrâneo e Europa, onde especialmente a Roma Antiga e mais tarde Veneza
desenvolveram carnavais suntuosos. Hoje é festejado em quase todo o
mundo. No Brasil fez sua aparição por volta de 1640, sendo conhecido
pelo nome de entrudo,
uma festa que simbolizava a liberdade mas amiúde acabava em tumultos
violentos, pelo que acabou sendo banido várias vezes, sempre sem
efeito, até a década de 1930, quando passou a ser substituído pelos
folguedos mais aceitáveis do Carnaval como hoje o conhecemos. Mas
também as elites promoviam seu próprio carnaval, sendo o primeiro deste
gênero registrado no tempo de Dom João IV, e realizado em sua homenagem. Contou com desfiles de rua, bloco de sujos (travestis)
e mascarados, corridas e combates simulados. Em torno de 1840,
realizou-se o primeiro baile público de máscaras, no Rio. A mascarada
carnavalesca, que predominava nos teatros e salões freqüentados pela
elite, foi aos poucos ganhando forças até, por volta de 1850, se
projetar para a rua. Os mascarados desfilavam a pé ou de carro puxado a
cavalos, origem dos carros alegóricos,
estendendo-se até os arrabaldes. Desfilavam grupos numerosos de
estranhos personagens fantasiados como figuras cômicas ou elegantes.
Festa disseminada em todo o Brasil, consolidou-se apenas em meados do
século XX e hoje tem diversas variantes regionais, que adotam ritmos e
decorações específicos a cada local. Permanece até hoje forte
influência europeia, que transmitiu personagens carnavalescos típicos
como o Rei Momo, o Pierrô, a Colombina e o Arlequim.[20][21]
Também chamado de Congo ou Congada, nasceu entre as
irmandades de negros em Portugal, no século XV, recordando as festas
que homenageavam a realeza africana, absorvendo também traços
católicos. Trazida para o Brasil, teve ampla difusão, mas a festa se
fortaleceu na região das Minas Gerais
no século XVIII, quando da chegada, capturados como escravos, de
membros da realeza congolense, que aglutinaram os negros em torno a si
dentro da moldura das irmandades católicas. É uma festa de apoteose e
redenção, encenando a coroação do Rei do Congo, acompanhado de um
cortejo compassado, cavalgadas, levantamento de mastros e música. São
utilizados instrumentos musicais tipicamente africanos, como a cuíca, a caixa, o pandeiro, o reco-reco, que sustentam a batucada. Na celebração dos santos associados, frequentemente São Benedito e Nossa Senhora do Rosário,
a aclamação é animada através de danças, e há uma hierarquia, onde se
destaca o rei, a rainha, os generais, capitães, etc. O resto do povo é
dividido em grupos de número variável, chamados ternos: Moçambiques,
Catupés, Marujos, Congos, Vilões e outros. Cada terno desempenha uma
função ritual própria na festa e no cortejo.[22]
Suas muitas variantes florescem por grande parte do Brasil são em
essência teatralizações dramáticas que envolvem um ou mais animais,
respectivamente bois e cavalos. Às vezes o animal é real, como nos rodeios,
e a festa se centra em torno da doma da besta, simbolizando o domínio
do ser bruto pelo homem pensante e sendo uma prova de coragem e
habilidade; ou, no caso mais comum do cavalo, se presta a corridas e
outros exercícios montados, em exibições de destreza e arte; às vezes o
animal é um personagem criado, uma estilização, como no caso do Boi-bumbá, com os conhecidos bois-ícones do Festival de Parintins,
chamados Garantido e Caprichoso, representantes de grêmios rivais. A
representação é dramática porque o boi é às vezes um mártir,
transfigurado pela sua ressurreição, a exemplo da festa do Boi Calumba,
ligada ao ciclo do Natal, ou acontece uma luta, ou ele escapa da morte
por um triz, novamente características do Bumbá. Às vezes as cavalhadas
reencenam as lutas entre mouros e cristãos e os torneios medievais, com
trajes apropriados, como no caso das Cavalhadas de Pirenópolis, hoje tombadas pelo IPHAN como patrimônio cultural imaterial do Brasil. Também é comum a inserção de trechos satíricos na narrativa encenada.[23][24][25]
Tem origem europeia e foi trazida para o Brasil pelos portugueses,
sendo comemorada em todo o território nacional entre a véspera de Natal, 24 de dezembro, e o dia de Reis,
6 de janeiro. Em geral grupos de cantadores e instrumentistas se reúnem
e, acompanhados de multidão e às vezes outros personagens, como o
Louco, o Juiz, palhaços e porta-estandartes, saem pelas ruas a pedir
esmolas. Suas cantigas evocam e parafraseiam os textos e eventos
bíblicos referentes a estas datas, como se lê em um verso recolhido por
Faleiro:[26]
-
- "Oh de casa! Oh de fora!
- Que hora tão excelente,
- E o glorioso santo Reis,
- Que é vem do Oriente...
- Oh de casa! Oh de fora!
- Alegre este morado,
- Que o glorioso santo Reis
- Na sua porta chegô...
- Aqui está santo Reis!
- Fora, Donas!
- Procurando vossa morada,
- Pedindo sua esmola..."
Foi um desenvolvimento germânico da festa romana Floralia, que celebrava a renovação da vida na primavera. Introduzida em Portugal pela esposa do rei Dom Dinis, Dona Isabel de Aragão, depois santa, que, segundo a tradição, teve um sonho que lhe indicou um local onde deveria erguer uma igreja em honra ao Divino Espírito Santo.
No século XVII a Festa do Divino jé era comemorada em todas as colônias
portuguesas, com muitas variantes. No Brasil se fundiu a outras
tradições: índias, emprestando por exemplo a dança do cateretê, e africanas, entre elas a congada, a marujada, o maracatu. Conforme a localidade, coretos animam as praças, descem os blocos de foliões e bandas de música pelas ruas, correm cavalhadas,
dançam bailes de fandangos e quadrilhas, passam em desfile carros de
boi enfeitados, seguidos de escolares, devotos e quantos queiram;
outros se entretêm com números circenses. Vários rituais compõem a
festa, que simbolizam relações de classe e onde se perpetuam valores
coletivos. Elege-se um "Imperador do Divino" para presidir a festa,
lembrando o rei e a corte lusitana; ergue-se um mastro com uma pomba no
topo, há procissões com cantorias visitando casas, rezam novenas,
ocorrem encontros com bênçãos e saudações cerimoniais. Em Mogi das Cruzes, por exemplo, Fernando de Moraes coletou este refrão:[27][28]
-
- Ao chegar o grupo a uma casa, saúdam dizendo:
-
- "O meu Divino aqui chegou, nesta hora abençoada,
- Veio salvar meu senhor, abençoar sua morada".
-
- Diversas situações rituais são previstas, tendo falas específicas. Por exemplo, se encontram uma vela acesa na casa, dizem:
-
- "Abençoada foi a mão que acendeu aquela vela,
- Há de ser abençoada por esta bandeira donzela".[29]
-
- Ao chegar o grupo a uma casa, saúdam dizendo:
Comemoram os santos católicos João Batista, Antônio e Pedro, são possivelmente uma herança de antigas tradições agrícolas pagãs.
Vieram com os portugueses, enraizaram-se primeiro no Nordeste e logo se
espalharam por todo o Brasil. As referências mais antigas foram dadas
no século XVI pelo Frei Vicente de Salvador:[30]
-
- "As fogueiras, os fogos de artifícios, as brincadeiras, o pagamento de promessas e outras tantas crendices, atraiam silvícolas e camponeses à capela. Missas eram celebradas, se contavam histórias, faziam-se adivinhações. Os padres procuravam conquistar aos neocristãos e lhes fortificar a fé católica".[30]
A festa se tornou extremamente popular em todo o Brasil, em parte
porque sua data coincidia com a colheita do milho, do feijão e do
amendoim, e essa fartura era considerada uma bênção a ser comemorada
com danças, cantos, rezas e muita comida. Mais tarde sofreram uma série
de outras influências, incorporando novas práticas e se diversificando
regionalmente. A quadrilha foi contribuição francesa, o coco-de-roda, africana, as polcas e as mazurcas
foram trazidas por imigrantes polacos. É onipresente a fogueira, em
torno da qual se celebra a festa e é dela o símbolo mais conhecido,
cuja origem é justificada por uma lenda que dizia ter Santa Isabel avisado a Virgem Maria do nascimento de João Batista
acendendo um fogo. Os balões de papel, que antigamente eram soltos em
quantidade, serviam para carregar as preces e pedidos aos santos no
céu. Também é popular o consumo de comidas como bolos de fubá, a pamonha, a pipoca e o quentão, bem como se tornou muito disseminada, a partir da década de 1930, por forte influência do projeto nacionalista de Getúlio Vargas, a caracterização do público como caipiras,
devendo ocorrer em algum momento a encenação de um casamento caipira,
cujo enredo é quase invariável, como descreve Claudia Lima:[30][31]
-
- "Os noivos tiveram relações sexuais antes do casamento e a noiva quase sempre está grávida; os pais da noiva obrigam o noivo a casar; este se recusa; é necessária a intervenção da polícia; depois o casamento se realiza com o padre fazendo a parte religiosa e o juiz, fazendo o casamento civil, sob as garantias do delegado e seus soldados. A quadrilha é o baile de comemoração do casamento."[30]
[editar] Linguagem, literatura e tradição oral
As principais manifestações do folclore na linguagem popular são as seguintes:
Também chamadas de adivinhas. Consistem em perguntas com conteúdo dúbio ou desafiador.
- Exemplo:
-
- O que é o que é?
- Está no meio do começo, está no começo do meio, estando em ambos assim, está na ponta do fim?
- Branquinho, brancão, não tem porta, nem portão?
- Uma árvore com doze galhos, cada galho com trinta frutas, cada fruta com vinte e quatro sementes?
- Uma casa tem quatro cantos, cada canto tem um gato, cada gato vê três gatos, quantos gatos têm na casa?
- Altas varandas, formosas janelas, que abrem e fecham, sem ninguém tocar nelas?
- O que é o que é?
-
- Respostas:
-
-
- A letra M
- Ovo
- Ano, mês, dia, hora
- Quatro
- Olhos
-
-
Ditos que contém ensinamentos, como "Dinheiro compra pão, mas não compra gratidão"; "A fome é o melhor tempero"; "Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão", e "Pagar e morrer é a última coisa a fazer".
Estrofes de quatro versos sobre o amor, um desafio ou saudação.
- Piadas ou anedotas
História curta de final geralmente surpreendente e engraçado com o
objetivo de causar risos ou gargalhadas no leitor ou ouvinte. É um tipo
específico de humor
que, apesar de diversos estilos, possui características que a
diferenciam de outras formas de comédia. No Brasil são muito comuns
piadas envolvendo o Joãozinho ou a Mariazinha, personagens supostamente
ingênuos mas de fato espertos e ferinos; as piadas de papagaio, sexo e
pescaria, e as ironizando portugueses, mulheres burras ou feias,
bêbados, caipiras, padres e homossexuais. Um exemplo de piada de
papagaio:
-
- "Um homem entra numa loja de animais, querendo comprar um papagaio e encontra três idênticos numa gaiola e pergunta o preço: -O da esquerda custa 500 Reais – diz o dono. -Nossa, que caro! Por que vale tanto? -Ele é um papagaio muito especial, sabe operar um computador. -Ah, sei... E o da direita, quanto vale? -Esse custa 1000 Reais. -Nossa, mas por que custa tão caro? -Ah, porque além de saber operar um computador, também domina Windows 98, Unix e Macintosh. -Sei, interessante... E o papagaio do meio? -Esse custa 5 mil reais! -Que é isso! O que ele sabe fazer de tão especial? -Na verdade – diz o dono, - nunca vi esse papagaio fazer coisa nenhuma. Mas os outros dois o chamam de chefe...".[32]
Também chamada de Folheto ou Romance, tem origem nas
tradições medievais da literatura européia. As canções de gesta, as
narrativas históricas, novelescas ou fantásticas, as histórias bíblicas
e os exemplários (contos usados para ilustrar tratados morais) são
algumas das fontes que contribuíram para o seu surgimento. Introduzida
no Brasil via Portugal, se consolidou em meados do século XVIII, ligada
ao nascimento das feiras de agricultores. Comum no nordeste brasileiro,
consiste de livrinhos com narrativas em verso, que são expostos para
venda pendurados num barbante (daí a origem de cordel), sobre assuntos
que vão desde mitos sertanejos a situações sociais, políticas e
econômicas atuais. Muitas vezes são ilustrados com xilogravuras
de caráter ingênuo mas muito expressivo, o que lhes aumenta o interesse
e os torna rica fonte iconográfica do imaginário popular. Entre seus
autores mais notórios estão Leandro Gomes de Barros, Zé Limeira, João Martins de Athayde e Cuíca de Santo Amaro.[33][34][35][36] Um trecho de Zé Limeira:
-
- "Eu me chamo Zé Limeira
- Da Paraíba falada
- Cantando nas escrituras
- Saudando o pai da coaiada
- A lua branca alumia
- Jesus, José e Maria
- Três anjos na farinhada".[37]
- Frases de pára-choque de caminhão
Frases que caminhoneiros pintam em seus pára-choques, podendo ser
humorísticas, sexuais, moralidades, devoções, ou podem revelar
sucintamente uma visão de mundo e de vida, em pérolas de sabedoria
prática. Exemplos: "Mulher bonita e melancia grande, ninguém
consegue comer sozinho"; "Na subida, paciência; na descida, dá
licença"; "Nasci pelado, careca e sem dente: o que vier é lucro".[38]
- Trava-Línguas ou parlendas
É um pequeno texto, rimado ou não, que constitui um desafio de pronúncia. Os exemplos são ilustrativos: "Um
tigre, dois tigres, três tigres"; "Atrás do quadro da escola
bibliotécnica estava um papibaquígrafo"; "Num ninho de mafagafos tem
seis mafagafinhos; quem desmafagafizar esses seis mafagafinhos bom
desmafagafizador será".
[editar] Algumas lendas e mitos bem conhecidos
Uma lenda indígena que descreve uma cobra de fogo de olhos enormes
ou flamejantes. Foram encontrados relatos do Boitatá em cartas do padre
jesuíta José de Anchieta,
em 1560. Para os índios ele é "Mbaê-Tata", ou Coisa de Fogo, e mora no
fundo dos rios. A narrativa varia muito de região para região. Único
sobrevivente de um grande dilúvio que cobriu a terra, o Boitatá escapou
entrando num buraco e lá ficando, no escuro, motivo pelo qual seus
olhos cresceram. Outros dizem que é a alma de um malvado, que vai
incendiando o mato à medida que passa. Por outro lado, em certos locais
ele protege a floresta dos incêndios. Algumas vezes persegue os
viajantes noturnos, ou é visto como um facho cintilante de fogo
correndo de um lado para outro da mata. Tem vários outros nomes:
Cumadre Fulôzinha, Baitatá, Batatá, Bitatá, Batatão e Biatatá. O
Boitatá pode ser uma explicação mágica para o fenômeno do fogo-fátuo.[39]
É um monstro com corpo de homem, focinho de anta ou de tamanduá e
pés de girafa, que perambula durante as noites, em busca de algum
alimento, lá pelas bandas do rio Xingu. Adora comer as cabeças de cães
e gatos recém-nascidos. Também adora beber o sangue de gente e de
outros animais, rasgando-lhes a carótida. Só pode ser morto com um tiro
na região do umbigo. É uma espécie de lobisomem indígena.[40]
Serpente lendária da Região Norte, que mora entre as rochas dos rios
e lagoas, de onde sai para afundar barcos. Quando ela sai das rochas,
troveja, lança raios e faz chover. Se a chuva é muito forte e
ameaçadora de novo dilúvio, toma a forma de arco-íris e serena as
águas. Ainda segundo a lenda, a lua é a cabeça da serpente, as estrelas
são os olhos e o arco-íris é o sangue da cobra-grande.[41]
Um homem muito cruel, que surrava a própria mãe. Ao morrer, foi
rejeitado por Deus e o Diabo. Não foi enterrado, porque a própria
terra, enojada, vomitou seu corpo. Assim, perambula por aí, com o corpo
todo podre, ainda cheio de ódio no coração, fazendo mal a todos os que
cruzam o seu caminho. Há relatos desta lenda nos estados de São Paulo,
Paraná, Amazonas, Minas Gerais e na região Centro-Oeste.[42]
Acredita-se que a lenda do boto tenha surgido na região amazônica.
Ele é representado por um homem jovem, bonito e charmoso que encanta
mulheres em bailes e festas. Após a conquista, leva as jovens para a
beira de um rio e as engravida. Antes de a madrugada chegar, ele
mergulha nas águas do rio para transformar-se em um boto. Esta lenda
pode ser uma versão sobrevivente do Ipupiara original, que depois se
transformou na Iara.[43]
Diz a lenda que era uma velha feia com forma de jacaré, que rouba as crianças desobedientes. A figura da Cuca tem afinidades funcionais com a do Bicho-papão e do Velho-do-saco, seres medonhos a quem alguns pais ameaçam entregar as crianças rebeldes.[44]
Também conhecido como Caipora, Caiçara, Caapora, Anhanga ou Pai-do-mato, todos esses nomes identificam uma entidade da mitologia tupi-guarani, um protetor das matas e dos animais silvestres. Representado por um anão
de cabelos vermelhos e compridos, e com os pés virados para trás, que
fazem se perder aqueles que o perseguem pelos rastros. Monta um porco
do mato e castiga todos que desrespeitam a natureza. Quando alguém
desaparece nas matas, muitos habitantes do interior acreditam que é
obra do curupira. Os índios, para agradá-lo, deixavam oferendas nas
clareiras, como penas, esteiras e cobertores. Também se dizia que uma
pessoa deveria levar um rolo de fumo se fosse entrar na mata, para lhe
oferecer caso o encontrasse. Sua presença é relatada desde os primeiros
tempos da colonização. Conforme a região ele pode ser uma mulher ou uma
criança de uma perna só que anda pulando, ou um homem gigante montado
num porco do mato, tendo como acompanhante o cachorro Papa-mel.[39]
Lenda que aparece em várias regiões do mundo, falando da desgraça de
um homem que tem sua natureza humana fundida com a de um lobo
periodicamente, sob influência da Lua cheia.
Nesta condição ele é uma criatura feroz que ataca pessoas. Ele pode ser
o resultado de um pacto de alguém com as forças do mal, ou nasceu na
condição de sétimo filho homem de seus pais.[45]
Relatada no Brasil desde o século XVI, a lenda da Iara é parte da mitologia universal, sendo uma variante da figura da sereia.
No princípio, a Iara se chamava Ipupiara, um homem-peixe que levava
pescadores para o fundo do rio, onde os devorava. No século XVIII
ocorreu a mudança, e o Ipupiara se tornou a sedutora sereia Uiara ou
Iara, que enfeitiça os pescadores com sua beleza e canto e os leva para
o fundo das águas. Por vezes ela assume a forma humana completa e sai
em busca de suas vítimas.[39]
Um mito indígena que tem seu princípio na menina Mara, filha de um
cacique, que vivia sonhando com o amor e um casamento feliz. Certa
noite, adormeceu e sonhou com um jovem loiro e belo que descia da Lua e
dizia que a amava. Mara apaixonou-se, mas logo o jovem desapareceu de
seus sonhos, e embora virgem, percebeu que esperava um filho. Deu à luz
uma graciosa menina, de pele branca e cabelos loiros, a quem chamou
Mandi. Em sua tribo foi adorada como uma divindade, mas adoeceu e
acabou falecendo. Mara sepultou a filha em sua oca
e, inconsolável, de joelhos, chorava todos os dias sobre a sepultura,
deixando cair leite de seus seios, para que a filha revivesse. Um dia
brotou ali um arbusto. Cavando a terra, Mara encontrou raízes muito
brancas, brancas como Mandi, que, ao serem raspadas, exalavam um aroma
agradável. Todos entenderam que criança viera à Terra para alimentar
seu povo. O novo alimento recebeu o nome de Mandioca, pois Mandi fora
sepultada na oca.[46]
Monstro que ainda hoje atemoriza os moradores da floresta na região
amazônica. Segundo as descrições o Mapinguari é uma criatura parecida
com um macaco, mais alto que um homem, de pelo escuro, com grande
focinho que lembra o de um cachorro, garras pontiagudas, uma pele de
jacaré, um ou dois olhos e que exala um forte mau cheiro. Segundo o
índio Domingos Parintintin, líder de uma tribo, ele só pode ser morto
com uma pancada na cabeça. Mas há grande risco, pois a criatura tem o
poder de fazer a vítima ficar tonta e "ver o dia virar noite". David Oren, ex-diretor de pesquisa no Museu Paraense Emílio Goeldi, afirma que a lenda do Mapinguari é uma reminiscência de possíveis contatos de homens primitivos com as últimas preguiças gigantes
que viveram na região. A persistência de relatos recentes de
avistamento levou a cientistas organizarem expedições à região, que não
resultaram, contudo, em encontro com ou identificação do animal.[47][48]
Lenda hispânico-portuguesa, cuja versão mais corrente é a de uma
mulher, virgem ou não, que dormiu com um padre, pelo que sofre a
maldição de se transformar nesse monstro em cada passagem de quinta
para sexta-feira, numa encruzilhada. Outra versão fala que se nascesse
uma criança desse amor proibido, e fosse menina, viraria uma mula sem
cabeça; se menino, seria um lobisomem. A Mula percorre sete povoados
naquela noite de transformação, e se encontrar alguém chupa seus olhos,
unhas e dedos. Apesar do nome, a Mula sem cabeça, acordo com quem já a
"viu", aparece como um animal completo, que lança fogo pelas narinas e
boca, onde tem freios de ferro. Às vezes, vista de longe, parece chorar
um choro humano e pungente. Se alguém lhe tirar os freios o encanto se
quebra; também basta que se lhe inflija qualquer ferimento, desde que
verta pelo menos uma gota sangue.[39]
Lenda afro-cristã de um menino escravo que é espancado pelo dono e
largado nu, sangrando, em um formigueiro, por ter perdido um cavalo
baio. No dia seguinte, quando foi ver o estado de sua vítima, o
estancieiro tomou um susto. O menino estava lá, mas de pé, com a pele
lisa, sem nenhuma marca das chicotadas, nem fora comido pelas formigas.
Ao lado dele, Nossa Senhora,
e mais adiante o baio e os outros cavalos. O estancieiro se jogou no
chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu. Apenas beijou a mão
da Santa, montou no baio e partiu com a tropilha. Depois disso,
tropeiros, mascates e carreteiros da região, todos davam notícia de ter
visto passar uma tropilha de tordilhos, tocada por um negrinho montado
em um cavalo baio. Então, muitos passaram a acender velas e rezar um Pai Nosso
pela alma do supliciado. Daí por diante, quando qualquer cristão perdia
uma coisa, o que fosse, pedia-la ao Negrinho, que a campeava e achava,
mas só entregava a quem acendesse uma vela, que ele levava para o altar
de sua madrinha, a Virgem que o livrara do cativeiro.[49]
Provável importação portuguesa, relatado primeiramente na Região Sudeste,
no século XIX. O Saci Pererê é um menino negro de uma perna só, e,
conforme a região, é um ser maligno, benfazejo ou simplesmente
brincalhão. Está sempre com seu cachimbo, e com um gorro vermelho que
lhe dá poderes mágicos. Vive aprontando travessuras e se diverte muito
com isso. Adora espantar cavalos, queimar comida e acordar pessoas com
gargalhadas. A lenda também diz que o Saci se manifesta como um redemoinho
de vento e folhas secas, e pode ser capturado se lançarmos uma peneira
ou um rosário sobre o redemoinho. Se alguém tomar-lhe a carapuça, tem
um desejo atendido. Se alguém for perseguido por ele, deve jogar
cordões enozados em seu caminho, pois ele vai parar para desatar os
nós, permitindo que a pessoa fuja. Às vezes se diz que ele tem as mãos
furadas na palma, e que sua maior diversão é jogar uma brasa para o
alto para que esta atravesse os furos. Há uma versão que diz que o
Caipora é seu pai. Os tupinambás
tinham uma história afim, uma ave chamada Matita-perera, que com o
tempo, passou a se chamar Saci-pererê, deixando de ser ave para se
tornar um caboclinho preto e perneta, que aparecia aos viajantes
perdidos nas matas.[39]
Lenda de origem tupi-guarani, contando que, no começo do mundo, toda
vez que a Lua se escondia no horizonte ia folgar com suas virgens
prediletas. Se a Lua gostava de uma jovem, a transformava em estrela.
Naiá, filha de um chefe e princesa da tribo, ficou impressionada com a
história. Quando todos dormiam e a Lua andava pelo céu, Naiá subia as
colinas e perseguia a Lua na esperança que esta a visse e a
transformasse em estrela. Fez isso por longo tempo, e chorava porque a
Lua não a notava. Certa noite, em prantos à beira de um lago, Naiá viu
refletida nas águas a imagem da Lua. Pensado que ela enfim viera
buscá-la, Naiá atirou-se nas águas, e nunca mais foi vista.
Compadecida, a Lua resolveu transformá-la em uma estrela diferente, a
"Estrela das Águas", a planta vitória régia, cujas flores brancas e perfumadas só abrem à noite, e ao nascer do sol ficam rosadas.[39][50]
[editar] Culinária
O Brasil possui uma culinária
original, resultado da fusão de uma variedade de influências,
principalmente a portuguesa, adicionando-lhe ingredientes e pratos das
culinárias africana e indígena.[51]
Os portugueses, além de suas tradições próprias, como a panelada, a buchada, o cozido, o pudim de iaiá, os arrufos de sinhá, o bolo de noiva, o pudim veludo, em virtude das navegações conheceram e introduziram no Brasil o coco, a manga, a jaca, a fruta-pão, a canela, a carambola, o sarapatel, o sarrabulho, trazidos do oriente. Também transmitiram pratos mouriscos como o alfenim. No cozido português se adicionou feijão preto ou mulatinho, carnes salgadas e defumadas, farinha de mandioca e muitas verduras, criando-se um dos pratos mais conhecidos da cozinha brasileira: a feijoada. Dos índios foi assimilada a farinha de mandioca, os alimentos preparados em folhas de bananeira, as comidas à base de milho, a paçoca,
a moderação no uso do sal e dos condimentos, os utensílios de cerâmica,
o gosto por alimentos frescos. Os negros contribuíram por exemplo com o
dendê, a pimenta malagueta, o inhame, o caruru.[51]
Na atualidade, cada região brasileira possui os seus pratos típicos.
No Norte, devido à presença de florestas, à influência indígena e à
abundância de grandes rios, predomina o consumo de peixes de água doce,
de mandioca e de frutas, além de iguarias como a caldeirada de jaraqui, o pato no tucupi, o tambaqui assado na brasa, a cuia de tacacá, a farofa de ovos de tartaruga, o creme de bacuri e de cupuaçu.[51]
No Nordeste são comuns os pratos à base de feijão, inhame, macaxeira, leite de coco, azeite de dendê, peixes, crustáceos e frutas nativas. Os pratos mais populares são a buchada, o sarapatel, a dobradinha, a galinha de cabidela, o quibebe, a carne-de-sol, peixes e crustáceos ao leite de coco, amendoim, canjica, pamonha, munguzá, cuscuz, milho cozido e assado, acarajé, caruru, vatapá, pé-de-moleque, arroz-doce, tapioca, caldo de cana, além de doces de frutas regionais.[51]
No Sul, onde se encontram grandes rebanhos, a população tem predileção pelo churrasco
assado na brasa com farinha de mandioca, o prato tradicional da cozinha
campeira. Pode também se servido com arroz branco, salada de maionese, saladas verdes e pão. Outros alimentos tradicionais são a tripada, o carreteiro, o chimarrão.[51]
No Rio de Janeiro é famosa a feijoada carioca; o cuscuz paulista se
popularizou em São Paulo; em Minas Gerais, os produtos lácteos como o
famoso queijo de Minas, requeijões, iogurtes, manteigas e doces de leite, além do pão de queijo, biscoitos de polvilho, goiabada cascão, o tutu à mineira e o feijão-de-tropeiro. No Espírito Santo são apreciados peixes com urucum, assim como a moqueca capixaba. No Centro-Oeste predominam os pratos à base de carne e peixes de água doce, aves e caça do Pantanal, frutas do cerrado como o pequi e erva-mate.[51]
Além das cozinhas regionais, populações específicas, descendentes de
imigrantes, também elaboraram sobre suas tradições próprias, como as
culinárias italiana, japonesa, chinesa, coreana, vietnamita, alemã,
húngara, francesa, polonesa, russa, ucraniana, aumentando a
diversidade. A pizza e o macarrão, por exemplo, vieram com os italianos e já foram incorporadas à alimentação cotidiana de muitos brasileiros.[51]
[editar] Brinquedos e brincadeiras
Os brinquedos são artefatos para serem utilizados em atividades lúdicas e/ou educativas, como a boneca, o papagaio (pipa), estilingue (bodoque), pião , arapuca , pandorga, etc. As brincadeiras podem envolver disputa de algum tipo, seja de grupos ou individual, como o pega-pega, bolinha-de-gude, esconde-esconde, resgate,
nunca 3, pique-bandeira, etc. As brincadeiras se modificam de acordo
com sua região, pode ser mudar o nome ou então a forma de brincar.
[editar] Crenças e superstições
- Sabença: sabedoria popular utilizada na cura de doenças e solução de problemas pessoais através de benzeduras.
- Superstição: explicações de fatos naturais como consequências de acontecimentos sobrenaturais.
[editar] Artesanato
A história do artesanato
tem início com a história do homem, que desde logo teve a necessidade
de produzir objetos utilitários e adornos, expressando assim sua
capacidade criativa e produtiva. Os primeiros artesãos surgiram no Neolítico, quando o homem aprendeu a polir a pedra, a fabricar a cerâmica
e a tecer fibras. No Brasil o processo foi idêntico, sendo os índios os
primeiros artesãos brasileiros, com sua habilidade na cerâmica, na cestaria, na pintura corporal e na arte plumária.[52]
A definição de artesanato é polêmica, seus limites são imprecisos e muitas vezes se confunde com a arte. Segundo Barroso Neto, o primeiro é uma "produção seriada de peças semelhantes que são resultantes, normalmente, de uma prática coletiva", ao passo que a segunda é "única, temática e fruto de uma produção individual cuja autoria reclama um nome".[53]
Ricardo Lima, por sua vez, enfatiza a necessidade do predomínio do
trabalho manual para a definição do caráter artesanal de uma peça.[54]
O artesanato pode se manifestar de várias formas, como na confecção
de vasos, panelas e potes de barro cozido e decorado; na funilaria, nos
trabalhos em couro e chifre, nos trançados, rendas, bordados e tecidos;
em formas de produção industrial caseira, como no fabrico de farinha de
mandioca e no monjolo de água; nos instrumentos musicais, brinquedos,
esculturas e entalhes, nas bijuterias, e numa infinidade de outras
formas. O artesanato brasileiro é um dos mais ricos do mundo,
revelando, quando tem características folclóricas, usos, costumes e
tradições de cada local. Nos últimos anos o artesanato nacional tem
conseguido grande projeção, inclusive para fora das fronteiras do país,
dignificando o trabalho dos artesãos. Além disso, por empregar grandes
contingentes de mão-de-obra pouco especializada, tem importante função social e econômica, garantindo o sustento de muitas famílias e comunidades.[52][55]
-
Bonecos figurando tocadores de pífanos do Nordeste
-
Guampa de tereré, feita de chifre e adornada com prata, artesanato típico da região Centro-Oeste do Brasil
[editar] Ver também
Referências
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